Em Minha Querida Sputnik:
Muito tempo atrás, na China, havia cidades circundadas por muros altos, com portões enormes, suntuosos. Os portões não eram apenas portas que permitiam a entrada ou saída das pessoas. Eles tinham uma grande importância. As pessoas acreditavam que a alma da cidade residia nos portões. Por isso, até hoje, na China, há uma porção de portões maravilhosos ainda de pé.
As pessoas levavam carretas aos campos em que se travaram batalhas e coletavam os ossos descorados que haviam sido enterrados ou que se espalhavam por ali. A China é uma bonita região, um monte de antigos campos de batalhas, por isso nunca precisaram buscar muito longe. Na entrada da cidade, construíam um portão imenso e o vedavam com os ossos dentro. Esperavam que, homenageando-os dessa maneira, os soldados mortos continuariam a proteger a sua cidade.
Quando o portão era concluído, levavam vários cachorros, cortavam suas gargantas e borrifavam o portão com seu sangue. Somente misturando sangue fresco com ossos exangues, a alma antiga dos mortos reviveria magicamente.
Escrever romances é a mesma coisa. Juntam-se os ossos e faz-se o portão, porém não importa o quão maravilhoso se torne, só isso não o torna um romance vivo, que respira. Uma história não é algo deste mundo. Uma verdadeira história requer uma espécie de batismo mágico para ligar o mundo deste lado ao mundo do outro lado.
– O que está querendo dizer é que devo partir sozinha e encontrar o meu próprio cachorro?
Concordei com um movimento da cabeça.
– E derramar sangue fresco?
Sumire mordeu o lábio e refletiu.
– Eu realmente não quero matar um animal, se puder evitá-lo.
– É uma metáfora – disse eu – Não precisa matar de verdade coisa nenhuma.
Adorei!
Gracias por compartirlo!! 🙂
…todavia algumas histórias surgem novas almas.
O sangue sacrificial na construção da obra é arrebatante…vida-morte, binômio essencial.
Chapei no texto. Não conhecia o autor.
Obrigada por me apresentar!