Retomo as resenhas com O rio que corre estrelas, de Santana Filho, que conheci recentemente. Por ter participado da coletânea Assim você me mata, da Terracota, aproveitei o lançamento para comprar alguns livros da editora, entre eles o do Santana. Como a Terracota tem passado a sua produção para e-book, tiro o atraso quando tiver o meu kindle.
O rio que corre estrelas é um livro rápido, em formato pocket tem 94 páginas, e foi uma boa curtição. Ele mistura memórias de infância com coisas inventadas, sem que fique claro para o leitor onde começa uma e termina a outra, bem a minha praia. O próprio autor fala no final do livro que “Quando me indagam a respeito da veracidade dessas memórias, respondo que nunca é tarde para ter uma infância feliz”. Essa frase define a sensação geral de leitura, enquanto acompanhamos as estrepolias do jovem protagonista.
De vez em quando aparecem uns poemas também, que no início achei que não se encaixavam bem na proposta, por serem um lampejo de adultice no meio da prosa lírica, mas um deles no final, achei ter um ponto de partida arrebatador e vou copiar aqui:
“Não pense em mim assim como se pensa,
Como percebe qualquer um que passa,
Como compra um chapéu que se vende,
Como quem ama qualquer um de graça,
Me deixe apenas ser,
Não tente acorrentar meu pensamento,
Nem julgue-se capaz de me entender.”
É um poeminha que o protagonista recita para outra personagem, que no final está cheia de sono pedindo para dormir.
Para quem quiser, o Santana Filho tem um site chamado Crônicas e Reflexões.
Capa simples e bonita, que combina com o título do livro, que também achei muito bem pensado. Fico imaginando se fosse literatura especulativa, a quantidade de comentários filosóficos a respeito da adequação do título. Eu sei, estou sendo chato. Mas é impossível não imaginar um monte de debates sobre o nada.