– Alô!
– Que bom que você atendeu. Tá podendo falar?
– Estou no aeroporto, de saída pra Manaus, lembra?
– Claro que lembro. Quero te pedir um favor
– Diga
– Na verdade, vou te confiar uma missão especial
– Ôba!
– Pesquisei na Internet e me deparei com uma fulana que está vendendo aquela novela inteirinha em DVD
– Aquela?
– Exatamente. Nem tô acreditando. Quero que você dê uma checada pra mim, e veja se não é alguma roubada…
– Certeza que ela conseguiu passar pra DVD? Essa novela é do tempo de Adão cadete…
– Então! É isso mesmo que eu quero que você descubra
– Beleza! Me passa o contato por email, ok? Última chamada pro meu voo
– Brigadíssima. Beijinho. Boa viagem!
– Alô
– E aí, muito calor em Manaus?
– Do jeito que o diabo gosta
– Olha, entrei em contato com a tal fulana. Mandei um email pra ela e disse que meu marido está na cidade e vai procurá-la
– Só pra confirmar: teu marido sou eu, acertei?
– Evidente. E você acha que eu escolheria outro?
– Acredito que não. Ainda hoje, depois da reunião, ligo pra ela, ok?
– Tô roendo as unhas. Dos pés. Olha, o pé de jabuticaba tá brotando…
– Mesmo? Ele não tava morrendo?
– Ressuscitou, querido. Não é um bom sinal?
– É capaz. Te ligo à noite; vou voltar pra sala de reunião
– Vai lá. Ôi, tá ouvindo?
– Diga!
– Você ainda é o meu Indiana Jones…
– Ainda bem que você ligou. Não agüentava mais
– Peguei o endereço e passei em frente. Tô acabando de vir de lá
– Jura? E que tal?
– Meio favelão, viu? Nem me atrevi a descer do carro nesse horário
– Ah, meu Deus! Barra pesada, assim?
– Não é propriamente o Palácio de Versailles, mas amanhã, de dia, vejo melhor
– Ih, querido, se você achar perigoso, deixa pra lá…esse negócio de Internet…
– Fica fria que Indiana não pretende voltar de mãos abanando
– Meu herói! Acredita que os passarinhos tão comendo as jabuticabas antes que eu consiga pegar?
– Humm, você já foi mais esperta…
– Sabe o que eu sonhei na noite passada?
– Vou saber agora
– A gente ainda era casado. Você voltava pra nossa casa. Chegava aqui com os cinquenta DVDs da novela, botava todos os passarinhos pra correr, colhia as jabuticabas, e a gente vivia felizes para sempre…
– O resto da vida chupando jabuticaba e assistindo novela…Não foi para evitar isso que a gente resolveu dar um tempo?
– Foi só um sonho, bobo
– Ótimo, vou dormir. Amanhã teremos um longo dia
– Teremos. Com certeza. Boa noite!
– Oi!
– Você não ligou ontem, que aconteceu?
– O diretor alemão me alugou o dia inteiro. Cheguei quebrado ao hotel
– Nenhuma novidade?
– Na hora do almoço liguei lá. Sondei se poderia conferir os discos antes de comprar. Ela não está acostumada com isso, desconversou. Garantiu que estão em bom estado. Fiquei cabreiro
– Querido, qualquer coisa é melhor do que nada. Essa novela tem um valor afetivo muito grande pra mim, você sabe. E na íntegra, nem posso acreditar!
– Eu sei. Amanhã daremos um jeito nisso
– Escuta, e a voz dela, que tal?
– Nada muito civilizado. Selvagenzinha, talvez. Pisa duro, a fulana, viu?
– Jura?! Bom, pouco semedá. Ela tem um tesouro dentro de casa
– Olha o exagero
– Eu também já tive um, mas entreguei pro Alibabá
– OK, preciso desligar. Te dou notícia.
– Querido…
– Um beijo!
– Diga lá!
– Achei que nunca mais fosse falar contigo. Onde você esteve todo o final de semana?
– O diretor alemão resolveu descer o rio. Passamos a noite na caça ao jacaré. E o domingo inteiro pescando
– O IBAMA não proibiu a caça ao jacaré?
– Para os gringos, tudo. Para os brasileiros, a lei.
– O domingo inteiro pescando?
– Precisava ver a euforia do gringo quando fisgou um tucunaré
– E os DVDs, ainda nada?
– Juci deu um pulo em Parintins e ainda não voltou
– Juci?! Quem é Juci?
– A moça dos DVDs, ora essa…
– Ah, Jucicleide, a selvagenzinha…
– Essa mesma. Mas, me conta aí, e as jabuticabas?
– Na mesma. Os passarinhos continuam dando olé!
– Bom, a gente vai se falando…
– Escuta, até quando você pretende ficar por aí?
– Até concluir minha missão, esqueceu? Indiana rides again.
– …
– Agora só saio daqui com esses discos. E quero te entregar em mãos.
– Humm…e o calor?
– Uma delícia, garota, uma delícia!
– Alô!
– Faça-me o favor! Duas semanas sem dar sinal de vida…
– O diretor alemão se encantou pela Amazônia e resolveu conhecer a floresta. Me levaram junto
– Duas semanas no meio do mato?!
– Você acha muito? Por acaso se esqueceu do tamanho daquilo lá?
– Que notícia você me dá dos meus discos?
– Pedi pra Juci regravar a segunda parte inteira. Estava tecnicamente lamentável.
– Você esteve com ela, então?
– Sim, fui até o estúdio de gravações
– Estúdio? Mas aquilo não era um favelão?
– Tô querendo ser gentil…
– E…que tal ela?
– É como te falei. Um tanto selvagem. Lábios roxos. Tipo açaí. Uma delícia!
– Você provou?!
– Provei?! …Ah, o açaí, evidente. É o que não falta por aqui
– Escuta. Parece que a jabuticabeira tá secando outra vez
– Cuide bem dela. Preciso dormir. Estou exausto.
– Fala!
– Eu posso saber o que está acontecendo por aí?
– Você não recebeu os DVDs?
– Como assim?
– A Juci te enviou pelo correio
– Mas você não vinha me entregar em mãos?
– Achei que você tinha pressa
– Pelo visto você é que não está com pressa nenhuma…
– …
– Mais de um mês enfiado nesse buraco. Não me diga que você passou esse tempo inteiro refazendo os discos com a JUCI
– Mudança de planos, darling.
– Se eu soubesse que essa missão te daria tanto trabalho, nem tinha falado sobre isso
– Não fale assim. Foi tudo providencial. E ainda hoje, mais tardar amanhã, você terá sua novela, na íntegra, a seu dispor, olha que show!
– Resolvi trocar a jabuticabeira. Aquela lá não foi pra frente mesmo. Passei no CEASA e trouxe uma já com as frutinhas. Precisa ver
– Vai demorar um pouco porque resolvi dar uma esticada
– Esticada?
– É. Cruzei o Atlântico.
– Eu bem que desconfiei. A novela foi só uma desculpa. Você viajou com a JUCI?
– De onde você tirou essa idéia? A Juci é selvagenzinha demais, não falei?
– Você está aonde, afinal?!
– Em Berlim, querida. Lembra do diretor alemão?!
Fantástica, deliciosa!!!!!
Divertida e encantadora na medida exata!
Fiquei torcendo pra que a tal novela fosse “Dancing Days”.
No mais, só tenho a dizer: Tem ex-mulher que é cega!
Silvinha, certeza que é “Selva de Pedra” e a Jucí regravou a partir do capotamento do fusquinha quando Regininha renasce loura e esperta, mas amando sempre… fazer o que, tem personagem que também é cega.
San, parabéns segurou legal o papo dos dois lados, o perigo é esse diretor alemão civilizado e rápido demais !!!
Peça a eles que não deixem de nos dar notícias de Manaus, da jaboticabeira e principalmente ao descer o rio que desagua em Berlin…
bjos a todos
Esse é o meu Herói, meu Indiana, meu maridãoooo !!!!!
Que aventura deliciosa de se ler…peripécias, suspenses, personagens – que pra quem não sabe – roíam mesmo as unhas dos dedos dos pés.
Como gosto de ler seus enredos, esse especialmente já nasceu pra ser rodado em película….
Queria mais…. Jucicleides, Alemão, Açaí, Jabuticabas…..
Aposto que ninguem jamais acertará qual novela é o tão aguardado “tesouro”, uma vez que, pelo que vejo, cada qual tem a sua.
Beijo pra todo o fã clube!
mas é um azougue no diálogo mesmo ! E com tantas referências … hihihihi
Querido Dom,
Acabei de descobrir, por fonte segura, que nem “Dancing Days” e nem “Selva de Pedra” – aliás superbem lembrada, também adoro!
Saudades e beijos.
Matei a xarada!!!!!!!!!!
Ela pediu UMA ROSA COM AMOR e ele mandou PLUMAS E PAETÊS……kkkkkkkkkkkk
BOM DEMAIS isso aqui!!!!!!!